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Para que servem os fundos europeus? No interior do país ajudam a fixar e a manter empresas

“O tecido empresarial português ainda continua a ser constituído, sobretudo, por pequenas e médias empresas. Todas enfrentam o mesmo tipo de dificuldade, sendo que, obviamente, as do interior enfrentam as mesmas dificuldades, mas com outro grau, inclusive devido à localização”, explica a professora Alice Cunha. Embora as dificuldades acrescidas, também “podem beneficiar mais precisamente porque estão em zonas menos desenvolvidas”.

No caso do Portugal 2030, um acordo entre o país e a Comissão Europeia de um investimento total de quase 23 mil milhões de euros em objetivos estratégicos, está programado investir metade do valor no Fundo de Desenvolvimento Regional, cujo propósito é mitigar os desequilíbrios de desenvolvimento nas regiões, e quase 80% será investido nas regiões menos desenvolvidas.

É em Oliveira do Hospital, uma cidade que integrava a região da Beira Alta, mas que atualmente está inserida na região de Coimbra, que João Nunes decidiu criar a Associação BLC3 – Campus de Tecnologia e Inovação, uma associação sem fins lucrativos de investigação e incubação de ideias e empresas na área da bioeconomia e economia circular.

A ideia surgiu no final de 2009 quando, durante as eleições autárquicas, perguntaram a João Nunes se tinha algum projeto para a região. A ideia “era montar um centro de investigação científica e desenvolvimento tecnológico com o apoio ao desenvolvimento do empreendedorismo. Foi feita uma apresentação para os empresários da região, na altura. Teve um forte acolhimento da parte empresarial, das pessoas, da própria Câmara e depois nasce a partir daí”.

Nos primeiros cinco anos, o investimento de Bruxelas foi o grande impulso, uma vez que a BLC3 foi o primeiro centro de investigação que iniciou o seu percurso sem orçamento do Estado. “Quando se desenvolve conhecimento e tecnologia não se consegue colocar logo no mercado. Ou seja, a capacidade de rentabilizar o nosso trabalho é diferente de alguém que produz o pão e consegue vendê-lo no próprio dia. Quem produz conhecimento não consegue vendê-lo no próprio dia”, exemplifica o presidente da associação.

Os fundos comunitários obrigaram a empresa a desenvolver-se mais rápido e de forma independente, além de permitir “andar sempre fora da zona de conforto para crescer” e ganhar uma “maior capacidade de resiliência”.

Com dois polos na região norte, em Macedo de Cavaleiros e Alfandega da Fé, e outro em desenvolvimento no Alentejo, o “DNA [da BLC3] é o interior”. Para desenvolver a região, a associação estabeleceu desde o início que o objetivo era fixar jovens qualificados. Uma missão que têm conseguido concretizar. Atualmente, a média de idades é de 29 anos nos mais de 130 postos de trabalho e onde cerca de metade é do interior do país.

“Em Lisboa e no Porto seríamos mais um”, explica João Nunes que acrescenta que a ciência, a tecnologia e a inovação são “alguns dos principais fatores ou instrumentos para a desenvolvimento dos territórios”.

Mais recentemente, obtiveram financiamento europeu para mais de dez projetos na associação. Também conseguiram com um apoio estatal em 2023 para contratar recursos humanos, mas este tipo de investimento é mais raro. “Se estivéssemos em Lisboa, havia projetos que já tinham sido apoiados há muito mais tempo. Os maiores problemas e as barreiras que enfrentamos foi sempre de não nos quererem dar o reconhecimento que o internacional e o europeu nos deram”, diz ao destacar o prémio ‘RegioStars’ atribuído pela Comissão Europeia.

“É fascinante ver até que ponto o país está, na realidade, ligado ao financiamento europeu”, afirma Alice Cunha. Para o interior do país, os fundos comunitários têm desempenhado um papel preponderante, considerando que esta região beneficiou, em 2021, de 40% deste financiamento europeu. A professora universitária alerta ainda que “seria muito difícil atualmente substituir este tipo de financiamento por outro, porque é uma parte muito importante de financiar diferentes políticas públicas no país”.

Data: 2024-05-18

Fonte: Expresso

URL: https://expresso.pt/geracao-e/2024-05-13-para-que-servem-os-fundos-europeus--no-interior-do-pais-ajudam-a-fixar-e-a-manter-empresas-b81b97b0