A reinventar produtos da terra
Fazem frutos secos, de pera e maçã, a partir da energia solar térmica. É um dos projetos da Associação BLC3, que está de corpo e alma na bioeconomia.
Valorizar o território e os seus recursos com base na tecnologia e inovação para criar produtos competitivos mas amigos da “Terra” é o desafio a que se propôs a associação BLC3, em Oliveira do Hospital, ao criar no seio da sua incubadora de empresas um departamento de bioeconomia.
Esta estrutura quer precisamente apoiar e incentivar projetos focados nos recursos naturais da região. É o primeiro do género em Portugal, disse à INVEST João Nunes, o presidente do conselho de administração da associação, que se assume como uma plataforma para o desenvolvimento da região interior Centro.
“Valorizar a terra e o que ela nos dá, mas com ciência e tecnologia para sermos diferentes e conseguir entrar nos mercados”, resume assim João Nunes a alma do novo departamento. E o que faz é apoiar os empreendedores quer na criação de um plano de negócios quer no desenvolvimento das tecnologias associadas aos projetos.
A equipa multidisciplinar de 25 investigadores da BLC3 é um dos suportes de apoio. Tal como “a rede internacional de excelência” que a associação constituiu “e que já representa 53 entidades de nove países europeus”, entre universidades e centros tecnológicos que abordam a questão da bioeconomia, sublinha o gestor.
O que a BLC3 faz é “identificar uma oportunidade de um determinado projeto e depois identificar na rede quais os melhores parceiros” para, a partir daí, “começarmos a criar um modelo próprio de cooperação para esse projeto”, explica.
“Apostamos em tecnologias e produtos que são diferentes e que terão possibilidades de serem industrializados”, esclarece ainda, alertando que “não interessa o bonito, mas o que é eficaz e tem capacidade para industrializar e ir para o mercado com base nos próprios recursos e território”.
Garantir o financiamento é outra questão central para a BLC3, que “faz um esforço e trabalho muito grande para conseguir captar investimento para os projetos, o que temos conseguido”, acrescenta João Nunes.
Peras, maçãs, queijos…
São variados e interessantes os projetos em desenvolvimento na BLC3. Como o projeto Biorefina, que visa criar produtos substitutos do petróleo e derivados, a partir de matos e resíduos florestais.
Ou a produção agrícola de produtos diferenciadores, como, por exemplo, o Projeto Valor Queijo, que quer valorizar o queijo Serra da Estrela, através de uma solução integrada que permite a identificação genética do leite, o aumento do tempo de prateleira do queijo e a sua conversão em unidoses.
Outro projeto em mãos é a desidratação de frutos, como peras e maçãs, para a produção de frutos secos, a partir de energias renováveis como fonte de energia térmica. Ainda outro é produzir cogumelos silvestres com base no património genético da região.
“Estamos a explorar todos os recursos naturais e a motivar novos modelos de produção agrícola na região”, nota João Nunes, sublinhando que “se soubermos aproveitar o que a natureza nos dá, estamos a contribuir para o desenvolvimento de uma economia com base em recursos naturais e com menor dependência externa”.
Para já, a BLC3 já incubou 16 projetos de bioeconomia, tendo sido investidos cerca de 3,9 milhões de euros, grande parte “de financiamento europeu”. E na calha estão novos, “mas que neste momento estão em fase confidencial”, revela o responsável da associação.
Replicar modelo à dimensão nacional
A BLC3 criou um território piloto de trabalho em bioeconomia, que abrange os concelhos de Arganil, Góis, Oliveira do Hospital e Tábua, mas acredita que o seu modelo possa ser replicado à dimensão nacional.
Os novos fundos comunitários também são uma janela de oportunidade. João Nunes espera que as entidades gestoras dos próximos fundos estruturais “acreditem mais em entidades tipo a BLC3 e que ajudem a fixar massa crítica e jovens em projetos ligados à valorização do território”.
A própria associação já está a trabalhar com outros municípios, bem como em projetos de cariz nacional. “Perspetiva-se a oportunidade de dar uma nova realidade à região interior e às regiões rurais de Portugal”, diz.
Numa missão que deve ser nacional há trabalho a fazer. Por parte das universidades e dos centros de I&DT, nas suas sinergias com o tecido económico, e também ao nível da formação. João Nunes lamenta lacunas na formação superior dos jovens em Portugal, que revelam “limitações do ponto de vista económico, de mercados e da necessidade de ser-se eficiente e diferente”.
Date: 2014-06-11
Source: Revista Invest
URL: http://revistainvest.pt/pt/A-reinventar-produtos-da-terra/A304